Prof. Marcos Coimbra
Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
É impressionante a diferença entre o mundo virtual divulgado pela propaganda intensiva e sufocante, através da mídia amestrada e cúmplice, dos “governantes”, em seus três níveis de atuação e a realidade dos fatos.
Isto é especialmente verdadeiro no relativo ao Estado do Rio de Janeiro e ao município de mesmo nome. Suas respectivas administrações são pródigas em “vender” ilusões, criando “factóides” de toda ordem, tentando passar a imagem de que está tudo maravilhoso em suas jurisdições. Entretanto, a análise fria dos acontecimentos desmente o ilusionismo apresentado.
Enquanto a presidente Dilma alardeia nos EUA as maravilhas da assistência médica no Brasil, surge a trágica notícia de que ocorrem no país cem mil mortes por ano em virtude de infecções hospitalares. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que as infecções hospitalares atinjam 14% dos pacientes internado. A falta de transparência fatalmente propicia a subestimativa destes números. E especialistas no assunto esclarecem que as principais causas são superlotação, desleixo e falta de higiene, como a lavagem adequada das mãos dos profissionais. No Estado e no município do Rio de Janeiro sucedem-se cenas de terror. O Hospital Pedro Ernesto teve seu centro cirúrgico fechado por razoável período de tempo devido a uma infestação de moscas varejeiras. O Hospital Pedro II continua sem funcionar, fazendo o Hospital Rocha Faria dobrar seu atendimento. A emergência do Hospital Rocha Maia, que tinha sido fechada para reforma está sendo reaberta gradualmente.
Para culminar, a administração estadual, a exemplo da municipal, aprovou projeto de lei na Assembléia Legislativa que instituiu as organizações sociais (OS) no sistema estadual de saúde pública, entregando-lhes a gestão das unidades de atendimento. É oportuno recordar que a Constituição em vigor obriga a realização de concurso para os servidores públicos para proteger a população dos vícios da contratação em função de critérios políticos, em busca de votos. Como também a estabilidade do servidor público permite-lhe imunidade para denunciar irregularidades, o que não acontece com o terceirizado, o qual pode ser demitido a qualquer momento. A administração estadual oferece um salário três vezes superior ao médico que migrar do serviço público (R$ 1.800,00) para as OS (R$ 6.000,00). Relatório recente do Tribunal de Contas do Município do RJ revelou várias distorções na utilização dos recursos públicos, mostrando a falta de fiscalização da Secretaria Municipal de Saúde. Os trágicos episódios da idosa que foi colocada viva no necrotério do Hospital Adão Pereira Nunes, bem como, no mesmo hospital, o idoso que morreu esperando atendimento médico na porta do mesmo nosocômio e o cidadão que percorreu 80 km e visitou 5 hospitais até conseguir internação, com traumatismo craniano, devido à falha na central de leitos demonstram a precariedade do serviço público.
Na segurança pública, a estarrecedora notícia da prisão, como mandante do assassinato da Juíza Patrícia Acioli, de um tenente-coronel que comandava, na época, o Batalhão de São Gonçalo, atualmente no comando da Maré. As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) começam a mostrar sua face negativa com o afastamento do comando da UPP da Coroa, Fallet e Fogueteiro por denúncia de corrupção e o ataque de marginais a tropas do exército que não aceitam o acordo tácito existente naquelas regiões, onde os traficantes continuam a agir, porém mais discretamente, com a conivência de maus policiais. Na prática, os policiais terminam por servir como segurança da facção que domina o tráfico na região, pois impedem com sua presença o ataque de outro grupo rival. E para piorar, muitos bandidos passaram a atacar os cidadãos no asfalto, pois perderam suas principais fontes de renda ilícita.
No segmento de transportes, a administração Sérgio Cabral Filho procura impor à sociedade um “puxadinho” do metrô da atual Linha 1 para a Zona Oeste, com uma irresponsabilidade inacreditável. O Clube de Engenharia enviou expediente defendendo a tese de se fazer a expansão tendo em vista o futuro aproveitamento da estação da Gávea, a ser construída, como cruzamento entre a atual Linha 1 e a Linha 4, tal como previsto inicialmente. Quem usa o metrô já não suporta mais a rotina de superlotação e de atrasos vivenciados pelos usuários daquilo que deveria ser o principal transporte de massa da nossa população. Afinal, não é aceitável que se abra mão do bem-estar da sociedade no futuro, apenas para atender às necessidades de cerca de vinte dias de competição. Vão ser investidos bilhões com qual objetivo? Aumentar a receita das empreiteiras e as comissões dos intermediários? As cidades com população de milhões de habitantes, como Nova Iorque, Paris e outras possuem várias linhas independentes de metrô, propiciando ao usuário deslocar-se por toda a cidade, sem grandes atrasos ou superlotação.
Vários parlamentares foram até o Procurador Geral de Justiça Cláudio Lopes, para falar da situação caótica que o metrô se encontra e que enfrentará com a tão comentada linha 4, que no entendimento dos deputados, não passa de um prolongamento da linha 1, assim como a linha 2. Tudo está sendo feito “no jeitinho”. Nem todos sabem, mas a estação da Carioca já está, desde a sua inauguração, preparada para receber outra linha, só faltando o acabamento. Além disso, a estação Estácio foi praticamente esquecida, pois a linha 2 já não passa por lá.
É de estarrecer que esta gente ainda seja candidata e, o pior, acabe por ser eleita, perpetuando o sofrimento da população.
Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br
Página: www.brasilsoberano.com.br (Artigo de 28.09.11-MM).