Por JOSIAS SAMPAIO LOPES*
10/05/2011 – 16 horas
Indicado novamente para falar pela Turma Tiradentes, nesta data 10 de maio de 2011, em que se reverência a vida do nosso saudoso Herói Capitão PM Alberto Mendes Júnior, expresso a minha emoção, gratidão por ter a oportunidade de manifestar-me, de fazer um testemunho sobre a nossa convivência na atividade operacional e a sua vida na Corporação.
Aproximadamente nos 2 (dois) últimos meses do Curso de Formação de Oficiais (CFO), aproveitávamos as 4ª feiras as quais éramos liberados às 13 horas e visitamos algumas Unidades da Corporação a fim de podermos efetuar a escolha para classificação ao término do Curso.
Escolhemos o então Batalhão de Presídios, o 15º BP e fomos atendidos.
O ano de 1.969, particularmente no Estado de São Paulo, havia se iniciado com um grande número de atos terroristas, ou seja, ataques a Quartéis, viaturas policiais, assaltos a bancos, etc. e neste quadro durante uma noite do final de maio de 1969 ocorreu uma invasão terrorista ao 15º BP tendo como resultado a morte de um soldado PM sentinela das armas e o auxiliar vitima de diversos tiros de metralhadora, foi reformado por incapacidade física e por este motivo o nosso período de estágio como Aspirante foi reduzido a fim de sermos logo apresentados ao então Batalhão de Presídios (15º BP).
Como todos os colegas de turma sabem o nosso Ten Mendes era possuidor de espírito jovial e alegre. Captou desde o começo a amizade de todos aqueles com que teve a oportunidade de privar, particularmente em nosso Batalhão o 15º BP. Era o alegre “PORTUGUÊS”, “TIGUEIS”, como era chamado pelos colegas, sempre sorridente, dedicava-se com denodo esforço ao serviço, desempenhando sempre com galhardia as missões que lhe eram confiadas.
Com estas qualidades foi escolhido e movimentado para o 1º Batalhão “Tobias de Aguiar” em 06 de fevereiro de 1.970.
Em fins de abril de 1970 era descoberto um foco de terroristas no Litoral Sul. Tropas do Exército Brasileiro, da FAB, Marinha e Polícia Militar do Estado de São Paulo, deslocaram-se para aquela região. Foi o 1º Batalhão "TOBIAS DE AGUIAR" designado pelo Comando Geral da Polícia Militar, para prestar apoio à Tropa da Companhia Independente sediada na Cidade de Registro.
Para lá seguiu o Tenente MENDES no comando de um pelotão, juntamente a outro efetivo comandado por outro Oficial, todos sob o comando do Capitão PM Carlos de Carvalho. Após uma semana naquela cidade, recebeu o Capitão ordens para regressar com um dos pelotões para São Paulo, deixando em Registro apenas um, comandado por um dos Oficiais. Não houve escolha, pois o Tenente MENDES apresentou-se e solicitou para que permanecesse, demonstrando mais uma vez sua dedicação ao serviço.
Na noite de 08 de maio de 1970, noite do dia das mães, aproximadamente às 21:00 horas, Carlos Lamarca e mais seis militantes emboscaram cerca de 20 homens do Pelotão Comandado pelo 2º Tenente Alberto Mendes Junior – que decidiu se entregar como refém desde que seus subordinados feridos pudessem receber auxilio médico. Após providenciar o socorro de madrugada, desarmado, a pé e sozinho, o Tenente Mendes buscou contato com os terroristas que estavam com o restante dos seus homens, encontrou Lamarca que decidiu que seguisse com seus companheiros para Sete Barras.
Na noite seguinte, dois guerrilheiros se extraviaram do grupo, depois de andarem um dia e meio, Lamarca acusou o Tenente Mendes de ter traído e ter causado a morte de seus dois comparsas. Um “Tribunal Revolucionário” condenou o Tenente Mendes à morte, dentre outras barbaridades indescritíveis, o executor inicial Fujimori aproximou-se pelas costas do Tenente Mendes esfacelando sua cabeça a golpes de fuzil. Participaram do assassinato, Lamarca, Diógenes Sobrosa de Sousa, Ariston Oliveira Lucena, Yoshitane Fujimore, Edmauro Gopfert, José Araújo da Nobrega e Gilberto Faria Lima.
Em 08 de setembro de 1970, o terrorista Lucena foi preso e apontou o local onde o Tenente Mendes estava enterrado, relatando o ocorrido.
Seu corpo foi encontrado apenas em 09 de setembro do mesmo ano. Foi velado na sede do Batalhão "TOBIAS DE AGUIAR", seguindo seu enterro a pé para o Cemitério do Araçá, naquele dia a cidade de São Paulo parou, calculando-se o acompanhamento de aproximadamente 100 mil pessoas entre militares e pessoas de todos os segmentos sociais.
Lamarca e seus seguidores são mencionados por alguns Órgãos da mídia como heróis, mas heróis não assassinam de forma cruel, não escondem os restos mortais da família, não torturam como ficou provado em vários processos que tramitaram na Justiça tais como as mortes do Guarda Civil Orlando Pinto Saraiva durante assalto simultâneo a bancos, do gerente de banco Norberto Droconetti, o agente da Policia Federal Hélio Carvalho de Araújo executado durante um seqüestro, além de inúmeros outros, cujos processos foram trancados pela Justiça face a sua morte. É A GLÓRIA DA MENTIRA.
Lamarca foi casado com sua irmã de criação Maria Pavan Lamarca com a qual teve dois filhos, Cesar e Claudia.
Pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Maria Pavan Lamarca recebeu os benefícios do posto de Capitão e uma indenização de R$ 100.000,00 isento do Imposto de Renda. Posteriormente a Comissão de Anistia concedeu-lhe o posto de Coronel com os benefícios do Posto de General de Brigada, desta forma a viúva oficial Maria Pavan Lamarca que tinha uma pensão de aproximadamente R$ 7.200,00 receberia o salário de General de Brigada que na época corresponderia a R$ 14.196,00 mensais, indenização de R$ 902.715.97 e duas indenizações no valor total de R$ 200.000,00. Além de Maria Pavan os filhos Cesar e Claudia também foram considerados anistiados. De acordo com dados divulgados pelo Governo já foram concedidas indenizações entre 2002 a dezembro de 2007 no valor de R$ 2,6 bilhões, sendo que 24 pessoas receberam indenização acima de R$ 3 milhões.
Mas a despesa total parece um saco sem fundo, pois o protocolo da Comissão de Anistia é permanentemente aberto em se tratando de violações imprescritíveis, e cuja reparação pode ser requerida a qualquer tempo. Vejam que até 17 de janeiro de 2010 de 65.000 processos, restavam 12.000 pedidos, e mais 3.500 recursos a serem julgados, o que provavelmente ocasionará uma despesa total de 4 bilhões de reais.
Diante das decisões do governo de indenizar indevidamente a família de Lamarca, o Clube Militar do Estado do Rio de Janeiro requereu a Justiça Federal a anulação da anistia post-mortem de Lamarca e proventos de General de Brigada. Em 05 de março de 2010 foi concedida decisão liminar para suspender a anistia ao ex-guerrilheiro comunista Lamarca, e a seguir tal decisão foi mantida pelo Tribunal até o julgamento do mérito da ação, haja vista recurso impetrado pela família do guerrilheiro.
Heróis não matam, não se tem noticia desta pratica pelo Marechal Duque de Caxias em suas inúmeras operações, responsáveis pela manutenção e a integridade do nosso território, nem o Marechal Rondon com sua tese sobre os índios “MATAR NUNCA, MORRER SE NECESSÁRIO”, Civilizador do Sertão, Marechal da Paz títulos concedidos por inúmeras entidades internacionais no inicio do século passado, nem Tiradentes, Mahatma Gandhi, Francisco Mendes, Marthin Luther King, etc. tenham defendido a violência, assim como Alberto Mendes Junior.
Tudo isso permite e obriga a uma conclusão: a de que o Tenente PM Alberto Mendes Junior, em sua curta existência de 23 anos realizou o ideal do herói e do santo. Quando chegou a sua vez e a sua hora ele as aceitou e as dominou, renunciando à oportunidade de fuga do dever, que, como uma espécie de última prova, lhe foi concretamente apresentada. Ele se tornou aquele “furacão dócil” de que fala Jacques Maritain (filósofo católico Francês) para definir o santo. E, na solidão dos seus últimos momentos, no mistério para sempre impenetrável desses momentos, ele soube realizar o milagre evangélico e dar sua vida pela suas ovelhas – os seus soldados.
Guerrilha não é caderneta de poupança. Terrorismo não é investimento em bolsa de valores.
Depois de divulgar os vencimentos isentos do Imposto de Renda da viúva de Carlos Lamarca, gostaria de salientar que os pais do Capitão PM Alberto Mendes Junior recebem os vencimentos de Capitão em virtude da sua morte em serviço e pelo ato de bravura, que não correspondem nem a metade dos vencimentos da Viúva Lamarca e não serão transferidos para nenhum herdeiro. Não receberam nenhuma indenização do Governo Federal ou Estadual. Seus pais possuem idade avançada (86 e 87 anos), dentre outros sofrimentos da vida, sofrem também do mal de Alzheimer e Diabetes o que provoca ainda mais dificuldades financeiras de sobrevivência.
Assim, a Turma Tiradentes reitera a sugestão ao Exmo Sr Comandante Geral da Corporação, o encaminhamento de proposta ao Governo do Estado para a promoção do Capitão Mendes Junior ao Posto de Coronel, por isonomia, por equidade, e por justiça. Também nos permitam lembrar as quatro indicações encaminhadas pelo Coronel PM Res Wanderley Silva no dia 10 de maio de 2007:
a. Que o dia 10 de maio seja consagrado na Corporação ao dia do Herói - PM,
b. Que haja publicação, em Boletim Geral concernente ao feito heróico a ser divulgado e transcrita anualmente por todas OPM, antecedendo o dia do Herói – PM,
c. Que naquele dia haja solenidade interna de culto ao Herói – PM Alberto Mendes Junior, conjuntamente com os Heróis das outras OPM, dando-se a conhecer os seus feitos históricos, convidando as autoridades, a comunidade local e os familiares dos homenageados,
d. Que sejam nominados de “Colégio da Policia Militar – ALBERTO MENDES JUNIOR”, todas as unidades escolares existentes e as que forem criadas;
e. Que seja mantida, anualmente na sede do 1º BPCHOQ PM esta solenidade, a fim de se perpetuar a imagem do “Herói – PM Alberto Mendes Junior, integrante da historia de São Paulo e do Brasil.
Herói é Alberto Mendes Junior pelas suas atitudes e conduta de vida em beneficio da sociedade, em seu curto período de vida, herói da Policia Militar, herói do Estado de São Paulo, herói do nosso Brasil, herói da democracia. Muito obrigado!!!
*Cel PM – Turma Tiradentes/1969