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quinta-feira, 31 de março de 2011

A Juventude e o Mercado de Trabalho

Por Prof. Marcos Coimbra*


Recentemente a imprensa publicou um informe assustador. O de que grande parte da população de jovens do Brasil tinha o desejo de sair do país para tentar obter melhor situação no exterior. Ora, a ser verdadeira a assertiva, ela contraria a maioria das opiniões expressas pelas autoridades governamentais e “especialistas” em economia, os quais apenas transmitem notícias alvissareiras. Afinal, de que adianta ser a oitava (ou sétima, segundo alguns) economia do mundo, com cerca de US$ 1,9 trilhão, apesar da distorção provocada pelo câmbio relativamente valorizado, se o sistema econômico é incapaz de absorver o contingente de jovens que ingressa no mercado de trabalho anualmente? E o mais grave. Exige cada vez mais qualificação, oferecendo remuneração cada vez mais baixa, subtraindo esperança da nova geração. Em renda per capita estamos no 71º lugar.

Outro dado interessante da referida pesquisa é o de que 54% dos jovens não querem sair da casa dos pais, para obtenção da antes tão aguardada independência, antigamente tão desejada. Identificamos as seguintes características, em um rápido diagnóstico sobre a nossa juventude, relacionadas a seguir.

Existe um grave quadro de violência nacional nos grandes centros metropolitanos na faixa de menores de 25 anos. No Brasil a idade mínima para registro da carteira de trabalho de menor é de 16 anos, admitindo-se o trabalho para os situados entre os 14 e os 16 anos, apenas na categoria de aprendiz. Houve avanço na taxa de escolarização e piora na qualidade de ensino e aprendizagem dos jovens brasileiros, revelando o fracasso dos sistemas nacionais de educação e de integração social para atender à população juvenil. Diagnosticamos uma crise em curso na transição do sistema educacional para o mercado de trabalho, o processo de imobilidade social intrageracional (a última ocupação não se diferencia do primeiro emprego) e a regressão intergeracional (a posição de vida e trabalho do filho é inferior a do pai).

Além disto, cerca de 20% da população adicional total é de jovens e a combinação de vida escolar e trabalho constituem realidade para um percentual de jovens com maior poder aquisitivo. Ainda, a quantidade de jovens desempregados em busca de trabalho em 2005 era 107% superior a de 1995, sendo a população economicamente ativa (PEA) restante de 90,5%. E para culminar, a situação mais dramática refere-se às mulheres, cujo desemprego aumentou de 15% para 25% nos últimos tempos.

 
          Na realidade, o jovem busca elevar a escolaridade combinando com a atividade laboral. Assim, nota-se uma menor expansão do desemprego entre os jovens, devido à maior expansão na frequência escolar, pois desta forma, eles não são incluídos na PEA, apenas pertencendo ao setor produtivo. Não estão disponíveis no mercado de trabalho.

Outros pontos a considerar são: a - Quanto menor o rendimento familiar, mais alto o desemprego juvenil; b - A cada 10 novos postos de trabalho gerados, apenas um é para jovens; c – O setor terciário absorve mais mão de obra do que o setor secundário; d- Há melhor absorção de jovens pelos mercados mais dinâmicos.

Diante deste preocupante quadro, quais ações estão sendo implementadas pelo setor público e pelo setor privado? Estão sendo bem sucedidas? Não podemos, nem devemos deixar de proporcionar igualdade de oportunidades para a nossa juventude, bem como aumentar a oferta de trabalho de bom nível para nossos filhos e netos. Eles representam o futuro do país. De nada adiantará a Economia ir bem, se o povo não estiver bem.

Como sugestões não exaustivas, citamos a seguir.

1- Melhorar o preparo do jovem para aumentar as chances de empregabilidade;

2-Melhorar a coordenação das mais de três dezenas de políticas governamentais voltadas para a juventude do Brasil, aumentando a escala e diminuindo o tempo de atendimento;

3- Promover ações que façam o jovem ingressar mais tardiamente no mercado de trabalho. Isso é uma tendência internacional. Exemplo: França;

4-Incrementar iniciativas voltadas para a expansão do emprego, especificamente para o trabalhador jovem. No setor privado, facilitando ao trabalhador jovem ser empregado. No setor público, por meio de ações que viabilizem ao jovem ingressar em algum trabalho de utilidade coletiva, como o combate ao analfabetismo e à desigualdade social;

5-Reformular a prática dos estágios. Na realidade, parte deles transforma-se em substituição do trabalho adulto. Ele pode ser uma oportunidade importante para o jovem se de fato for adequado à formação que ele teve anteriormente, se isso abrir uma perspectiva dentro de sua formação;

6-Procurar as oportunidades através de concurso ou seleção e contato direto com o empregador. Contudo, na prática, indicações pessoais (parentes, amigos, professores e profissionais) são muito importantes;

7-Incrementar o processo de integração Empresas/Universidades. Ele atualiza a formação acadêmica recebida nos cursos de nível superior.

Estimula o aumento da experiência profissional através do treinamento em serviço, para obter e aperfeiçoar as habilidades e conhecimentos profissionais. É fundamental para a efetivação da qualidade total da formação profissional, garantindo trabalhadores que saibam conjugar aptidão técnica com especulação teórica;

8-Enfatizar a importância dos cursos técnicos e profissionalizantes. Figuram como uma das demandas apresentadas pelas camadas populares para tentar garantir sua inserção no mercado de trabalho. Cálculos do IPEA informam que, o Senai, Senac e as escolas técnicas federais teriam, no máximo, lugares para apenas 14% da clientela em potencial).


*Conselheiro Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.



Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br

Página: www.brasilsoberano.com.br (Artigo de 29.03.11-MM)



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