SINDICALIZARAM O PENSAMENTO!
“O que não sabe é um ignorante,
mas o que sabe e não diz nada é um criminoso.”
Bertold Brecht
“Até que um dia O mais frágil deles Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e, Conhecendo nosso medo, Arranca-nos a voz da garganta
E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada.”
Vladmir Maiakovski
Waldo Luís Viana*
‘Stamos ferrados! O núcleo duro do governo volta a atacar, mas desta vez não é com o politicamente correto em delírio tremens. Não, desta vez não é Gramsci, cujo nome lembra até gramática! Temos agora o transgramscismo tupiniquim, em que os heresiarcas de nosso ministério da educação dirigista resolvem instituir o errado como certo. É a suprema dialética dos coitadinhos, vencendo a cultura nefanda das elites.
Não é mais o Lula dos comícios, com as faces vermelhas de cachaça e uísque, a vociferar pensamentos retorcidos para a plebe ignara. Agora, seus saudosistas querem instituir a ignorância como fórmula pedagógica. Não é o que ia dar depois de oito anos no poder? O que Lula nos legou, afinal, em seus dois governos “nóis num cunsserta nem in vinti!, né mermo, Dirma?”
Um país com gritantes gargalos de infraestrutura, sem saneamento básico, educação, saúde e segurança adequados para a maioria, com portos sucateados, pobres ferrovias, rodovias sem remendo e elevado custo-brasil e de competitividade, com os juros e os impostos mais altos do mundo – agora tenta “inovar” na cultura, instituindo a burrice galopante sem prêmio Nobel.
Onde vamos parar? Não bastasse encarar por tanto tempo a exaltação do despreparo, os escândalos verbais a que ficamos acostumados, as línguas presas, as ausências de plural e concordância, bem como o vilipêndio e sequestro de nossa língua-mãe – agora temos que aturar uma conspiração que deseja simplesmente destruir as gerações emergentes brasileiras, vale dizer, crianças e jovens, no sentido de desprepará-los para o mercado e torná-los definitivamente indigentes diante de um mundo pós-moderno em febricitante transformação.
Já não temos mão-de-obra qualificada (os cérebros-de-obra) para repaginar nosso desenvolvimento de longo prazo e estamos optando por desabilitar o claudicante modelo de eficiência que a custo mantínhamos ainda na educação.
Se a cultura está sucateada pelas distorções de favores governamentais, que apenas subsidiam os apaniguados do Estado e do partido governante, se a máquina estatal foi aparelhada por baixo, destruindo o padrão de excelência de inúmeras empresas do governo – agora querem abastardar a escola, destruí-la de dentro para fora em seu conteúdo, porque a violência exterior, medida em “bullyings” contra estudantes e professores se tornou realidade palpável e praticamente impossível de coibir.
Se a droga campeia fora de seus muros, com o crack, a cola e o oxy degenerando nossos meninos e meninas, os salários que mantêm o parque educacional são de propósito deprimidos, convidando a elite pensante e remanescente a ficar longe das escolas e faculdades.
Enquanto as universidades norte-americanas e européias disputam renhidamente os prêmios Nobel de ciência e tecnologia, nós confundimos ensino e pesquisa com funcionalismo público, congregando igrejinhas em que medalhões ultrapassados querem apenas proteger parcos privilégios em torno de seus sindicatos.
A educação e a cultura estão se estiolando, com os seus conteúdos deitando pelo ralo a dentro, sem que haja qualquer estupor social contra isso. A opinião pública distrai-se com futebol, sexo na mídia e a corrupção imorredoura da classe política sem perceber que está sendo envolvida num processo apocalíptico de destruição dos valores nacionais, o que pressupõe o sucateamento de nossas forças armadas e a sindicalização do pensamento do próprio povo.
Quem jamais assistiu a uma reunião de sindicato não percebe o que digo: nelas, um grupo forte e decidido influencia duramente a maioria, atônita e intimidada, mediante agressivas palavras de ordem. Subindo a temperatura, quando se estabelece o clima de votação ela se constrói sob o domínio dos “esclarecidos”, que pretendem conquistar o apoio da maioria silenciosa. Assim se dão esses encontros e temos vistos dirigentes sindicais eternizados em cargos, às vezes por décadas, praticando toda a sorte de desmandos que inclusive denunciam na surrada classe política. E essa gente, quando se elege, faz ainda pior: tenta dilatar o próprio poder apoderando-se da máquina pública e privatizando o Estado ainda mais do que em períodos anteriores. Como são ignorantes e medíocres, precisam da conformidade social como regra de consenso e utilizam-se de um discurso e jargão peculiares, que os identifica logo em suas cicatrizes de mandonismo e corrupção.
Se transplantarmos para o campo da educação essa podre mentalidade, vamos ver que as escolas e universidades copiam o mesmo espírito de compadrio e corporativismo das velhas estruturas sindicais. Nos locais em que deveríamos produzir humanidade e saber, temos o pensamento estandartizado, cabisbaixo e sem qualquer coragem de ser plural. Quem ousa pensar dentro de uma universidade brasileira não chega a chefias de departamento nem influencia qualquer mudança no rumo da ciência e da sabedoria...
Esse estado de coisas, quando chega à outra ponta, conduz os estudantes à mesma mediocrização, sendo seus núcleos de representação hoje meras autarquias subsidiadas por dinheiro público. O antigo “estudante profissional e ideológico”, utópico defensor de uma ideologia qualquer, passou a ser funcionário sequioso por verbas públicas e obediente aos governantes de plantão...
Nesse ambiente jamais se fará ciência ou teremos qualquer vanguarda entre os países emergentes, a não ser acreditando em doses maciças de propaganda, que narcotizam a opinião pública em torno de bandeiras mórbidas, que não correspondem à realidade.
A obra-prima governamental, no entanto, traduz-se na interferência em definitivo no modo de pensar. Se os nossos modos de agir estão sendo paulatinamente tolhidos pelas propostas modernosas do politicamente correto, a fina flor do Lácio é sindicalizar o pensamento do povo brasileiro, impedindo-o de refletir a não ser com o consentimento da casta dirigente. Esses são os desígnios evidentes: despreparar ao máximo a população, invertebrá-la inclusive na expressão do idioma, para assegurar melhor dominação. Uma juventude reduzida a pouco mais de 800 palavras não será capaz nem de pensar nem de se opor...
Esse é o fascismo pós-moderno posto em prática no país e que depende da massificação do pensamento por baixo, deixando aos poderosos do petismo, irmanados à direita oligárquica, as rédeas definitivas do poder.
Nesse contexto de perda de tudo que amamos, vocês podem escolher entre Brecht e Maiakovski, tanto faz, eles não serão lidos mesmo. Tampouco nosso Rui Barbosa, que apenas ouviremos mais uma vez do túmulo, em sintonia distante, roufenha e derrotada, dizendo: “sinto vergonha de mim...”
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* Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta, tendo livros em produção independente publicados na Internet: www.clubedeautores.com.br e www.agbook.com.br. Sirvam-se deles, pois...
Teresópolis, 17 de maio de 2011
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