Prof. Marcos Coimbra
Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
A denominada “faxina” no ministério dos Transportes atingiu principalmente o partido mais fraco da base aliada, o PR, dirigido pelo notório deputado federal Valdemar Costa Neto. Perifericamente eliminou um diretor petista do Rio Grande do Sul.
A pergunta que não quer calar é: por que o “eleito” foi justamente este ministério e seus órgãos? Por que não outro? Será que lá a corrupção é maior? Poucos cidadãos duvidam que, caso os mesmos critérios fossem adotados nos demais ministérios e órgãos, os resultados seriam bastante semelhantes, talvez revelando delitos mais graves. Será que a causa principal foi justamente o fato de ser o partido menos importante da aliança formada pelo “presidencialismo de coalizão”? Outra intenção conseqüente seria provocar um “efeito-demonstração” nos congêneres. Uma espécie de aviso para moderarem as atividades ilícitas porque o limite imaginável já foi ultrapassado. Ou seja, roubem moderadamente, sem deixar rastros.
Seria um erro grave iniciar por um órgão sob o comando dos principais partidos governamentais, o PT e o PMDB. O primeiro representaria um corte na própria carne, acabando por desmoralizar o ex-partido “ético”. O segundo em virtude de afetar a governabilidade dos atuais detentores do poder político no país. Sem o PMDB, a administração de Dilma não sobrevive. Já o que pode fazer o PR de ameaçador? De fato, ele não tem saída. Não sobrevive sem participar do butim e não possui um líder como o presidente do PTB, Roberto Jefferson, que caiu atirando ao denunciar o “mensalão” e apesar disto seu partido continua na base governista. Outra indagação pertinente é : por que os corruptores não são sequer citados, além de punidos?
A imprensa já denuncia abertamente outros órgãos da Esplanada, como os ministérios das Cidades, Agricultura, Minas e Energia, Desenvolvimento Agrário, e também autarquias como Incra, Codevasf, Conab, Funasa, e até a Agência Nacional de Petróleo. Na realidade, a corrupção grassa em praticamente todos os lugares, passando a ser banalizada. Outro candidato forte seria o ministério do Esporte, pois pertence ao PC do B, também pequeno. Mas é uma área altamente sensível agora, em virtude da realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. E tudo isto após a “flexibilização” nas licitações, criada pela Medida Provisória 527, denominada de Regime Diferenciado de Contratações para obras da Copa e Olimpíadas.
O Sr. João Alberto Viol, presidente do Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco) afirma que: “O principal problema da contratação integrada é que ela será definida com base em um anteprojeto, etapa anterior ao projeto básico e que já não é o melhor parâmetro para a contratação pública de obras. Essa opção joga no lixo o conhecimento acumulado da arquitetura e da engenharia brasileira”.
Tudo leva a crer que os escândalos dos Jogos Pan-Americanos serão considerados como aperitivo, diante do que está por vir. O atraso, proposital ou ocasionado pela incompetência, é de tal ordem em quase todas as áreas, que a maioria dos empreendimentos será objeto de licitações de emergência, abrindo caminho para negociatas homéricas. Grandes fortunas serão aumentadas e muitas novas construídas. Vultosos recursos para dispendiosas campanhas eleitorais serão acumulados, possibilitando a eleição de novos “postes” para qualquer cargo.
É inadmissível que em um país como o Brasil, com carências enormes em toda a infra-estrutura econômico-social, tenha sido escolhida como prioridades a realização destes dois eventos. Caso os grandes problemas tivessem já sido resolvidos, nada a opor. Mas os fatos demonstram o absurdo. Apenas nos últimos dias, no Rio de Janeiro a rede pública estadual de ensino está em greve e o Hospital Municipal Rocha Maia fecha as portas por falta de médicos. O salário mensal de um profissional concursado do Estado do Rio é de cerca de R$ 2.000,00 por 24 horas semanais de trabalho. Em São Paulo, no último final de semana, crimes terríveis ocorreram em sucessão, mostrando a fragilidade da segurança pública. O Custo Brasil é assustador. A precariedade dos nossos aeroportos, rodovias, ferrovias, portos etc. impressiona.
Fica difícil acreditar que tudo funcionará a contento em 2014 e 2016. Torcemos para dar certo, mas isto só não basta. Coitado do Pelé. Coube a ele a impossível tarefa de, na qualidade de embaixador honorário da Copa de 14, explicar o inexplicável. E com direito à companhia de Ricardo Teixeira, o todo poderoso presidente da CBF, a quem não suporta.
E, finalmente, o que restará de legado para o povo brasileiro após a realização destes eventos? Estádios monumentais, utilizados por algumas vezes, de cara manutenção, inviáveis economicamente, espalhados pelo território brasileiro. Alguns acham que vale o sacrifício, pois a marca Brasil será divulgada e o turismo incrementado nas duas ocasiões, podendo estimular o turismo receptivo depois. Porém, isto poderá ocorrer, a um custo elevado, se tudo for bem. E caso não seja? E os estudiosos dizem que o investimento não costuma ser recompensado. Por que o Japão saiu da liça? Remendos de metrô como o planejado para o Rio de Janeiro não representam solução e sim mais transtorno para o usuário. Dá pena comparar o estágio apresentado por Londres para as Olimpíadas de 2012 com o nosso.
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Página: www.brasilsoberano.com.br (Artigo de 02.08.11-MM).
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