Por Valmir Fonseca Azevedo Pereira*
O renomado escritor alemão Franz Kafka ficou célebre por suas herméticas obras de ficção. “A Metamorfose”, “O Processo” e “O Castelo” ilustram o seu admirável currículo.
Seu estilo literário apresenta indivíduos preocupados em um pesadelo de um mundo impessoal e burocrático. Assim é o seu personagem Joseph K, retratado no romance “O Processo”, no qual é julgado e condenado por um crime que ele mesmo ignora.
Aqui, a realidade poderá ser mais cruel do que as ficções de Kafka. Anuncia-se o início de um processo sui generis. É como se Joseph emergisse das catacumbas para acusar aqueles que o vigiaram, prenderam e condenaram.
Na verdade, será uma procissão de Josephs.
No indigesto processo que se avizinha, uma pergunta não poderá ser formulada, o “por quê” ?
Os nossos Josephs poderão dramatizar, representar, acusar, narrar com riqueza de detalhes a sua odisséia de sofrimento, apontar algozes, angariar simpatias, tornarem – se heróis por sua capacidade em resistir e em lutar contra a opressão.
Porém, não responderão, pois nunca lhes será perguntado, o “por quê” ?
Sim, indagam os curioso. Mas “por quê” ?
Foram presos. Qual o motivo? Por seus bons antecedentes? Será que, como personagens kafkianos, meros e inocentes cidadãos foram aleatoriamente apanhados ? Desfilarão às deliberações da Comissão tristes vítimas de escolhas sumárias, singelos e inofensivos postos à merce de celerados e paranóicos ?
Ninguém da imparcial Comissão(não citaremos o nome dela para evitar contratempos) perguntará ou buscará traçar uma ligação dos depoentes com as causas de seu infortúnio?
Assim como Joseph, que nada sabia, a procissão dos vitimados, também, de nada saberá?
Estamos prestes a assistir ao impossível, algo muito mais tenebroso do que as obras ficcionais de kafka. Veremos o desfilar de acusações e lamúrias de pobres mortais, e se assaltaram, mataram, sequestraram e aterrorizaram, nada importa (afinal, para que serviu a anistia?).
Importa sim, que cândidos querubins foram inocentes vítimas, como Joseph, sem nenhuma culpa no cartório.
“Não é justo”, dirão os puros de espírito e sucumbirão afirmando, ou calarão, por ser legal e proibido comentar.
Contudo, esta é a regra do jogo, o “por quê”, não interessa. É, na prática, a sublimação do fato consabido de que no contexto atual ”os fins justificam os meios”. Por mais torpes que sejam(ambos).
A Comissão não quer saber os “por quês”, talvez, porque tenha medo da verdade.
Os “por quês” nada justificam, mas respondidos, poderiam mostrar a verdadeira face dos nossos Josephs.
Brasilia,DF, 27 de março de 2011
*Gen Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira
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