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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ADEUS ÀS ARMAS


 

“Não tem nada pior do que ser hipocondríaco
num país que não tem remédio.”

Luiz Fernando Veríssimo



Waldo Luís Viana*


         Há horas irascíveis e com certeza elas foram feitas para a deposição das armas. Sinto-me triste e perdedor, não pela eleição da Dilma, mero efeito, não causa, mas por constatar o estado em que se encontra o povo brasileiro.

         Num país sem nenhum prêmio Nobel, chegamos ao fundo do poço em matéria de ética política. Sem falar, naturalmente, em saúde, educação, segurança, portos, ferrovias, estradas, enchentes, secas, defesa civil, penitenciárias, contrabando, tráfico de drogas e tantas outras calamidades.

         Aliás, parafraseando Platão, é necessário concordar de que é preciso um mínimo de estudo e comida no estômago para que se pense em ética, esse epifenômeno que já não frequenta a cabeça alienada e conduzida de nosso povo. Temos várias categorias de analfabetos: o puro e simples, o funcional, o político, o Maria-vai-com-as-outras, o empregado de bandido, etc. – tantos e obscuros segmentos que compõem boa parte da totalidade de nosso eleitorado obrigatório. Eles vão votar como levados a um matadouro e, como sobrevivem às eleições, esquecem facilmente aqueles que conduziram ao poder.

         Logo após as eleições, os conduzidos lhes dão o troco: cobram do povo a conta da gastança, promovem uma recessão no ano seguinte, não antes de aumentar pornograficamente os próprios salários. É esse o impasse em que todo o governo que entra se encontra: explicar porque não poderá cumprir qualquer promessa no primeiro ano, em virtude do pagamento da conta eleitoral do ano anterior!

         A presidenta formou o ministério “Frankenstein” que podia, à sombra de seu criador de tubo de ensaio, sem nenhum carisma e cercada de todos os mimos e oficialismos que se poderiam dedicar a uma doce criatura de laboratório. A primeira edição do ministério, que obviamente não se sustentará, tem o “perfume” do antecessor em suas reentrâncias: burocrático, medíocre, sem qualquer lampejo de genialidade ou extraordinária competência. Colidirá logo com o temperamento, digamos “febril”, da Presidenta e nessa mistura entre PT-PMDB, de um simulacro de esquerda com a direita oligárquica, surgirão as contradições terríveis que vamos assistir nos próximos anos.

         Isso é óbvio e todo mundo sabe. O fastio está em discutir tal deserto, de homens, mulheres e ideias, numa nação cujo maior sábio é o presidente que termina o mandato. A que ponto chegamos! O culpado disso é o povo brasileiro que gosta mesmo de tudo o que está aí. Aliás, afirmo, constrangido, que o povo brasileiro é muito pior do que os políticos que ele elege. Explico. Os nossos representantes fazem tão somente o que os que os elegeram fariam, se estivessem lá. Pior do que “tá” não fica, mas ficará ainda bem pior: sentiremos muitas saudades do atual presidente. Aliás, no Brasil, o futuro é sempre pior que o passado...

         A corrupção, sem peias, irá se agudizar.  E o povinho, masoquista, mas muito esperto, sempre espera que um otário qualquer apareça na frente do processo social para protestar. Esse defensor, é claro, será imolado e destruído e depois virará samba de enredo, o único tributo que lhe ofertarão após a desgraça. E a história se repetirá, sempre como farsa e falsa tragédia...

         Se houvesse compostura no novo governo e em sua insigne ocupante, a primeira coisa a se fazer seria divulgar-se um check-up completo sobre o seu estado de saúde, porque câncer não é brincadeira. Como entregar um país a um ser humano de quem se tem todas as dúvidas sobre o seu real estado de saúde, sobre se tem realmente condição de ir até o final do mandato permitido pela Justiça Eleitoral?

         Ou teremos, mais uma vez, de nos alimentar de boatos, teorias conspiratórias ou documentos do Wikileaks ou do Openleaks? Esperemos que dona Dilma esteja bem e possa manter sob rédea curta as oligarquias que vão trabalhar (e como nunca) em seu governo.

         Felizmente, como nosso país já está no Primeiro Mundo, embora não tenhamos aqui bilionários como Bill Gates e outros, contamos com o Eike Batista que, proferindo recente conferência, nos brindou com essa pérola: “não há mais Caixa 2 no Brasil e as licitações são muito transparentes”. Frase memorável, digna de um Groucho Marx ou de um Ronald Golias. Por outro lado, temos um Congresso recheado de homens dispostos a fazer qualquer negócio, vendendo as virtudes públicas do mesmo modo que Cabral já fez com os nossos índios...

         A quem clamar, pois, a quem pedir ajuda? Sou um escritorzinho qualquer, num país que só tem dois, Jorge Amado e Paulo Coelho. Como sou teimoso e vivo do meu trabalho suado, vou passar a escrever sobre literatura, poesia, psicologia e enfocar as crônicas do cotidiano, evitando ao máximo o que me dá nojo visceral. Acho que estou ficando velho e meu estômago anda muito sensível. Assim, vou me alienar um pouco – perdão eu peço aos meus dezessete leitores – e falar de coisas mais metafísicas e espirituais que essa realidade mórbida do Brasil que  positivamente não aguento.

         Roube muito, roube bastante, ó classe política, que o povo brasileiro te saúda! Fica com o teu quinhão, merecidamente conquistado nas urnas, mesmo que signifique o escárnio, a zombaria e todas as lamúrias que o povinho irá proferir, a meia boca, nas filas dos hospitais e bancos. Destrói logo a classe média com mais impostos, porque não se pode mexer nos pobres (que dão votos) e nos ricos (que dão o dinheiro para a continuidade da farra).

         Mas poupe, por favor, um pobre escritor, que depõe suas armas, tentando ser esquecido. Se com a pena já não posso mover, cingir-me-ei a comover! E não se fale mais nisso!

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* Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta Teresópolis, 19/12/2010.

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