Por Gélio Fregapani
Assuntos: Cenário Mundial; Cenário Nacional e Pequenas Notícias
Cenário Mundial
Há poucas semanas, com o dólar americano em direção ao abismo, especulava-se qual seria a reação dos EUA para garantir os acessos ao petróleo e às matérias primas indispensáveis ao ressurgimento de um parque industrial que suprisse ao menos seu mercado interno, já que internacionalmente ninguém poderia competir com a China.
Os russos foram os primeiros a prever publicamente o uso da maquina militar da OTAN para garantir o petróleo. Isto lhes agradava, pois aliviaria a pressão separatista islâmica em seu próprio território. A China, com o mesmo problema russo, também daria seu beneplácito. Entretanto deve ser lembrada a existência de outros “atrativos” mais a mão, como o nosso pré-sal e os minerais das áreas indígenas.
A onda dos movimentos “por liberdade” nos países do Norte da África e do Oriente Médio trouxe novos dados ainda não muito claros, que devem ser analisados em seus reflexos na disputa entre as potências por espaços e poder, acesso a matérias primas e mercados; cenário permanente nas relações internacionais.
Algumas das conseqüências se tornam evidentes como a tendência de formação de um bloco árabe-islâmico coeso e hostil aos EUA e a Israel. Ainda não está certo se os EUA perderão seus aliados árabes, mas esta é a tendência. Para Israel a situação provavelmente se agravará; mesmo que tivesse cedido na questão palestina, quando estava em posição de força, não teria a paz garantida. Muito menos adiantaria ceder agora.
Os massacres de cristãos em países de maioria muçulmana, se ainda não despertaram a indignação geral, preparam o espírito das massas para uma nova cruzada, que tal como algumas das anteriores, será forjada pelos interesses de diversas nações, quer seja por se sentirem ameaçadas, quer seja para ter acesso ao petróleo.
Esse cenário ainda em ebulição pode afastar temporariamente a ameaça sentida por todos os geopolíticos ao nosso pré-sal e a provocação da secessão das áreas indígenas, pois em véspera de guerra, os EUA tudo farão para conquistar a nossa aliança, ou ao menos a nossa simpatia. O perigoso para nós seria os EUA/OTAN desistirem do Oriente Médio e se concentrarem na América do Sul
Cenário Nacional
Lula deu sorte, ou foi de uma clarividência impar. A política de benefícios sociais, muitas delas exageradas, conseguiram manter a indústria e o comércio em funcionamento, atenuando ou mesmo anulando no País o efeito da crise financeira que atingiu os EUA com reflexos em quase todo o mundo. Aproveitando a situação privilegiada da alta das commodities, em seus dois últimos anos Lula retomou com sucesso o estilo desenvolvimentista dos governos militares e o País pode progredir, apos afastada a paralisante influência de Marina Silva e de seus inconseqüentes seguidores.
Os diversos escândalos pouparam a figura do então presidente, mas atingiram aos quadros do seu partido. Para suceder-lhe, sobrou a Lula apenas a Dilma. Outra vez, parece que acertou. Dilma iniciou agindo com coerência.
Entretanto há uma dívida a pagar, e se essa dívida não se deve exclusivamente ao último governante, nenhum tesouro nacional teria condições de atender ao que Lula tentou, ainda mais com os erros nas prioridades que foram feitos. O preço a pagar a Dilma herdou; ou melhor, nós é que herdamos. Entre estes:
1 – As prioridades erradas – Exemplos: Para prolongar a vida de um aidético deixa-se de salvar 100 maláricos; para tratar um drogado (e quase sempre sem sucesso) se gasta o que deveria ser investido em segurança
2 – O câmbio e os juros errados – A valorização do real acaba com a competitividade da indústria nacional. Os juros – os mais altos do planeta drenam as divisas e as verbas que seriam para a infraestrutura. A enxurrada de dólares entrando no País propicia a compra, por estrangeiros, de usinas, terras e outros bens de raiz, fonte de novos problemas no futuro
3 – Instituições caríssimas e ineficientes – Exemplos: Temos o Congresso, o mais caro do mundo e talvez o mais inútil, e um Judiciário que abre mão de território nacional para minorias inventadas e demonstra opção preferencial pelos malfeitores em detrimento das vítimas, além dos definitivamente distorcidos e nefastos INCRA, FUNAI e o Min. do Meio Ambiente.
4 – A debilidade militar – O descaso de governos anteriores e a nova situação mundial nos colocou em vulnerabilidade, com pequena capacidade de dissuasão.
5 – A exacerbação dos movimentos sociais, como o MST, MAB, indigenismos, movimentos quilombolas e outros, normalmente criados por ONGs estrangeiras, ameaçando dividir o País em pedaços e em segmentos hostis.
6 – A impunidade universal, impedindo os castigos, deixa em desvantagem as pessoas de bem, abalando a disciplina nas Forças Armadas e a educação das crianças.
7 – A valorização do hedonismo, destruindo os valores familiares incluindo a noção de pátria do dever e da honra.
Mas o cenário está evoluindo - A queda do dólar, a ascensão da China e agora as convulsões no mundo árabe trazem novos perigos, mas também novas oportunidades.
A principal ameaça parece ser a econômica, ressaltando a desindustrialização e a compra estrangeira de nossos recursos naturais. A segunda certamente é a militar, em função desses mesmos recursos. A terceira é a ameaça de desagregação nacional. É claro que estas ameaças não são as únicas e estão entrelaçadas
As principais oportunidades são o desenvolvimento dos setores onde seríamos imbatíveis, quer por termos o monopólio da matéria prima (por ex o nióbio e o quartzo), quer por vantagem significativa (agronegócio). Urge diminuir os juros e proteger as empresas nacionais de capital nacional de concorrências com que não possam competir e desenvolver o quanto antes a capacidade militar de dissuasão, sendo a melhor delas a bomba atômica.
Pequenas notícias
A juíza Claudia Maria Bastos Neiva acatou a alegação de que Lamarca não poderia ser beneficiado porque desertou do Exército para entrar na luta armada contra o regime militar e suspendeu a anistia ao desertor.
O dep. Reguffe pretende alterar o Código de Ética da Câmara para que ilícitos anteriores ao mandato possam resultar em punição, aproveitando o caso Jaqueline Roriz. O colegiado estava desacreditado com as últimas pizzas na Câmara.
Roraima continua em ebulição. Além do desagrado dos índios por ver secar sua fonte de alimentação (os arrozeiros), pode vir a ter nova eleição.
Até o Bispo de Jales, Dom Valentini, sabe que o código florestal em vigor, se aplicado inviabilizaria a agricultura nacional
Que Deus guarde a todos vocês
Gelio Fregapani
ADENDO
De interesse apenas de militares ou interessados no assunto
Dissuasão –
A capacidade de dissuasão não significa sempre a de vencer a guerra, mas ao menos a de cobrar um preço superior às vantagens a serem obtidas.
Obviamente a capacidade absoluta de dissuasão são as armas nucleares. Quem as tiver. E meios de lançá-las, jamais será invadido nem pressionado além de certos limites.
Se observarmos com olhar crítico veremos que, a partir da “demonstração” de Hiroshima e Nagasaki, as armas nucleares e políticas foram desenvolvidas mais para garantir a paz do que para ganhar uma guerra. Assim foi o desenvolvimento nuclear da então URSS. Certamente os países nucleares, em alguma vez mantiveram a aberta a opção nuclear, mas sempre contida pela capacidade de revide, mesmo que com menor intensidade.
Até uma disponibilidade mínima fornece garantia de dissuasão nuclear. Israel não sobreviveria nos próximos tempos sem seu armamento atômico, embora provavelmente ele nunca seja usado. Para um estado pequeno como o Paquistão, foi a garantia de paz com a Índia. Para esta a garantia de paz com a China e para a China, de paz, inicialmente com a União Soviética e atualmente com os EUA
A chance paz para o Irã é fazer sua bomba a tempo , e se a Coréia do Norte tiver realmente a bomba, só receberá ataques verbais.
Nossos governantes falharam em compreender a geopolítica do poder. O Collor foi ignorante ou traidor ao interromper o desenvolvimento do armamento nuclear.O FHC foi certamente traidor ao renunciar unilateralmente. Ao Lula faltou, no mínimo coragem. E a Dilma? Faltará também?
No Ministério da Defesa se comenta que devemos manter a capacidade de dissuasão sem visar um inimigo específico. Caso se refira a capacidade nuclear isto funcionaria, mas na sua ausência é indispensável pensar em como se opor as ameaças existentes. Considerando que nossos vizinhos não nos ameaçam, mas que devemos dissuadir aventuras de países desenvolvidos em busca de nossos recursos naturais, sentimos que 36 caças, mesmo os melhores do mundo, nada significam nesse contexto, mas bons mísseis terra-ar podem influir na dissuasão. Da mesma forma, mesmo com a renovação dos nossos meios flutuantes não causaríamos ano à uma esquadra poderosa, mas submarinos talvez sim. Nas forças de terra, até os melhores tanques do mundo seriam destruídos pelo ar, tão logo aparecessem, mas guerrilhas nas selvas, nos sertões e nas cidades colocariam em cheque uma ocupação.
É só pensar. GF
Recebido de Walter Mendes
A "operação Líbia" e a batalha pelo petróleo: Redesenhar o mapa da África
por Michel Chossudovsky
As implicações geopolíticas e económicas de uma intervenção militar EUA-NATO contra a Líbia são de grande alcance.
A Líbia está entre as maiores economia petrolíferas do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo, mais do dobro daquelas dos EUA.
A "Operação Líbia" faz parte de uma agenda militar mais vasta no Médio Oriente e na Ásia Central, a qual consiste e ganhar controle e propriedade corporativa sobre mais de 60 por cento da reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas de oleodutos e gasodutos.
"Países muçulmanos incluindo a Arábia Saudita, Iraque, Irão, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Iémen, Líbia, Egipto, Nigéria, Argélia, Cazaquistão, Azerbaijão, Malásia, Indonésia, Brunei possuem de 66,2 a 75,9 por cento do total das reservas de petróleo, conforme a fonte a metodologia da estimativa". (Ver Michel Chossudovsky, The "Demonization" of Muslims and the Battle for Oil, Global Research, January 4, 2007) .
Com 46,5 mil milhões de barris de reservas provadas (10 vezes as do Egipto), a Líbia é a maior economia petrolífera do continente africano seguida pela Nigéria, Argélia (Oil and Gas Journal). Em contraste, as reservas provadas dos EUA são da ordem dos 20,6 mil milhões de barris (Dezembro 2008) segundo a Energy Information Administration. U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas Liquids Reserves)
Nota
As estimativas mais recentes situam as reservas de petróleo da Líbia nos 60 mil milhões de barris. As suas reservas de gás em 1.500 mil milhões de m3. A sua produção tem estado entre 1,3 e 1,7 milhão de barris/dia e a produção de gás de 2.600 milhões de pés cúbicos por dia, segundo números da National Oil Corporation (NOC).
A BP Statistical Energy Survey de 2008 (em alternativa) colocava as reservas provadas da Líbia nos 41.464 mil milhões de barris no fim de 2007, os quais representam 3,34% das reservas provadas do mundo. (Mbendi Oil and Gas in Libya - O verview ).
O petróleo é o "troféu" das guerras conduzidas pelos EUA-NATO
Uma invasão da Líbia sob um pretexto humanitário serviria os mesmos interesses corporativos da invasão de 2003 e subsequente ocupação do Iraque. O objectivo subjacente é tomar posse das reservas de petróleo da Líbia, desestabilizar a National Oil Corporation (NOC) e finalmente privatizar a indústria petrolífera do país, nomeadamente transferir o controle e propriedade da riqueza petrolífera Líbia para mãos estrangeiras.
A National Oil Corporation (NOC) está classificada entre as 25 maiores 100 companhias de petróleo do mundo. ( The Energy Intelligence ranks NOC 25 among the world's Top 100 companies. - Libyaonline.com )
A planeada invasão da Líbia, a qual já está em curso, é parte da "Batalha pelo petróleo" mais vasta. Aproximadamente 80 por cento das reservas de petróleo da Líbia estão localizadas na bacia do Golfo de Sirte da Líbia Oriental. (Ver mapa abaixo)
A Líbia é uma economia valiosa. "A guerra é bom para os negócios". O petróleo é o troféu das guerras efectuadas pelos EUA-NATO.
A Wall Street, os gigantes anglo-americanos do petróleo, os produtores de armas dos EUA e UE seria os beneficiários tácitos de uma campanha militar dos EUA-NATO contra a Líbi.
O petróleo líbio é uma mina de ouro para os gigantes petrolíferos anglo-americanos. Embora o valor de mercado do petróleo bruto esteja actualmente pouco acima dos 100 dólares por barril, o custo do petróleo líbio é extremamente baixo, tão baixo como US$1,00 por barril (segundo uma estimativa). Como comentou um perito do mercado a lgo cripticamente:
"A US$110 no mercado mundial, a simples matemática à Líbia uma margem de lucro de US$109". ( Libya Oil , Libya Oil One Country's $109 Profit on $110 Oil, EnergyandCapital.com March 12, 2008)
Interesses petrolíferos estrangeiros na Líbia
Dentre as companhias petrolíferas estrangeiras que operavam antes da insurreição na Líbia incluem-se a Total da França, a ENI da Itália, a China National Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio espanhol REPSOL, ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco Phillips.
Muito significativamente, a China desempenha um papel central na indústria petrolífera líbia. A China National Petroleum Corp (CNPC) tinha, até o seu repatriamento, uma força de trabalho de 30 mil chineses na Líbia. A British Petroleum (BP), em contraste, tinha uma força de trabalho de 40 a qual foi repatriada.
Onze por cento (11%) das exportações de petróleo líbias são c analizadas para a China. Se bem que não haja números sobre a dimensão e importância da produção e actividades de exploração da CNPC, há indicações que são apreciáveis.
Mais geralmente, a presença da China na África do Norte é considerada por Washington como uma intrusão por. De um ponto de vista geopolítico, a China é uma intrusa. A campanha militar dirigida contra a Líbia pretende excluir a China da África do Norte.
O papel da Itália também tem importância. A ENI, o consórcio italiano, extrai 244 mil barris de gás e petróleo [por dia], os quais representam quase 25 por cento do total das exportações da Líbia. ( Sky News: Foreign oil firms halt Libyan operations , February 23, 2011).
Dentre as companhias estado-unidenses na Líbia, a Chevron e a Occidental Petroleum (Oxy) decidiram há cerca de seis meses (Outubro 2010) não renovar as suas licenças de exploração de petróleo e gás na Líbia. ( Why are Chevron and Oxy leaving Libya?: Voice of Russia , October 6, 2010). Em contraste, em Novembro de 2010 a companhia alemã R.W. DIA E assinou um acordo de grande alcance com a National Oil Corporation (NOC) da Líbia que envolve a exploração e partilha de produção. AfricaNews - Libya: Ge rman oil firm signs prospecting deal - The AfricaNews,
As apostas financeiras bem como "os despojos de guerra" são extremamente elevados. A operação militar pretende desmantelar instituições financeiras da Líbia bem como confiscar milhares de milhões de dólares de activos financeiros líbios depositados em bancos ocidentais.
Deveria ser enfatizado que as capacidades militares da Líbia, incluindo o seu sistema de defesa aérea, são fracas.
Redesenhar o mapa da África
A Líbia tem as maiores reservas de petróleo da África. O objectivo da interferência dos EUA-NATO é estratégico: consiste no roubo sem rodeios, em roubar a riqueza petrolífera do país sob o disfarce de uma intervenção humanitária.
Esta operação militar pretende estabelecer a hegemonia dos EUA na África do Norte, uma região historicamente dominada pela França e em menor extensão pela Itália e Espanha.
Em relação à Tunísia, Marrocos e Argélia, o desígnio de Washington é enfraquecer os laços políticos destes países com a França e pressionar pela instalação de novos regimes políticos que tenham um estreito relacionamento com os EUA. Este enfraquecimento da França, como aspecto do desígnio imperial dos EUA, faz parte de um processo histórico que remonta às guerras na Indochina.
A intervenção dos EUA-NATO que conduza à futura formação de um regime fantoche dos EUA pretende também excluir a China da região e por para fora a National Petroleum Corp (CNPC) da China. Os gigantes anglo-americanos, incluindo a British Petroleum que em 2007 assinou um contrato de exploração com o governo Kadafi, estão entre os potenciais "beneficiários" da proposta operação militar EUA-NATO.
Mais na generalidade, o que está em causa é o redesenho do mapa da África, um processo de redivisão neo-colonial, o descarte das demarcações da Conferência de Berlim de 1884, a conquista da África pelos Estados Unidos em aliança com a Grã-Bretanha, numa operação conduzida pelos EUA-NATO.
Líbia: Portão saariano estratégico para a África Central
A Líbia tem fronteiras com vários países que estão na esfera de influência da França, incluindo a Argélia, Tunísia, Níger e Chad.
O Chad é potencialmente uma economia rica em petróleo. A ExxonMobil e a Chevron têm interesses no Chad do Sul incluindo um projecto de oleoduto. O Chad do Sul é um portão de entrada para a região do Darfur, do Sudão, a qual também é estratégico em vista da sua riqueza petrolífera.
A China tem interesses petrolíferos tanto no Chad como no Sudão. A China National Petroleum Corp (CNPC) assinou em 2007 um acordo de grande alcance com o governo do Chad.
O Níger à © estratégico para os Estados Unidos devido às suas vastas reservas de urânio. No presente, a França domina a indústria de urânio no Níger através do conglomerado nuclear francês Areva, anteriormente conhecido como Cogema. A China também tem interesse na indústria de urânio do Níger.
Mais geralmente, a fronteira Sul da Líbia é estratégica para os Estados Unidos na sua busca pela extensão da sua esfera de influência na África francófona, um vasto território que se estende desde a África do Norte até à África Central e Ocidental. Historicamente esta região fazia parte dos impérios coloniais da França e da Bélgica, cujas fronteiras foram estabelecidas na Conferência de Berlim de 1884.
Os EUA desempenharam um papel passivo na Conferência de Berlim de 1884. Esta nova redivisão no século XXI do continente africano, baseada no controle sobre o petróleo, gás natural e minerais estratégicos (cobalto, urânio, crómio, mangan ês e platina) apoia amplamente os interesses corporativos anglo-americanos.
A interferência dos EUA na África do Norte redefine a geopolítica de toda uma região. Mina a China e ensombra a influência da União Europeia.
Esta nova redivisão da África não enfraquece apenas o papel das antigas potências coloniais (incluindo a França e a Itália) na África do Norte. Ela também faz parte de um processo mais vasto de deslocamento e enfraquecimento da França (e da Bélgica) sobre uma grande parte do continente africano.
Regimes fantoches dos EUA foram instalados em vários países africanos que historicamente estavam na esfera de influência da França (e Bélgica), incluindo a República do Congo e o Rwanda. Vários países na África Ocidental dentro da esfera da França (incluindo a Costa do Marfim) estão destinados a tornarem-se estados proxy dos EUA.
A União Europeia está fortemente dependente do fluxo de petróleo líbio. Oitenta e cinco por cento do seu petróleo é vendido para países europeus. No caso de uma guerra com a Líbia, a oferta de petróleo à Europa Ocidental poderia ser interrompida, afectando grandemente a Itália, França e Alemanha, as quais estão fortemente dependentes do petróleo líbio. As implicações destas interrupções são de extremo alcance. Elas também têm relação directa sobre o relacionamento entre os EUA e a União Europeia.
Observações conclusivas
Os media de referência, através da desinformação maciça, são cúmplices na justificação de uma agenda militar a qual, se executada, teria consequências devastadoras não apenas para o povo líbio: os impactos sociais e económicos seriam sentidos à escala mundial.
Há actualmente três diferentes teatros de guerra na região do Médio Orie nte e Ásia Central: Palestina, Afeganistão, Iraque. No caso de um ataque à Líbia, um quarto teatro de guerra seria aberto na África do Norte, com o risco de escalada militar.
A opinião pública deve tomar conhecimento da agenda oculto por trás deste empreendimento alegadamente humanitário, apregoado por chefes de estado e chefes de governo de países da NATO como uma "Guerra Justa". A teoria da Guerra Justa, tanto nas suas versões clássica como contemporânea, defende a guerra como uma "operação humanitária". Ela apela à intervenção militar sobre bases éticas e morais contra "estados vilões" e "terroristas islâmicos". A teoria da Guerra Justa demoniza o regime Kadafi na sua fase de preparação.
Os chefes de estado e de governo dos países da NATO são arquitectos da guerra e destruição no Iraque e no Afeganistão. Numa lógica absolutamente enviesada, eles são apregoados como as vozes da razão, como os representantes da "comuni dade internacional".
As realidades são invertidas. Uma intervenção humanitária é lançada por criminosos de guerra em altos cargos, os quais são os guardiões da teoria da Guerra Justa.
Abu Ghraib, Guantanamo, ... Baixas civis no Paquistão resultantes de ataques dos EUA com aviões sem piloto a cidades e aldeias, ordenados pelo presidente Obama, não estão nas primeiras páginas dos noticiários, nem tão pouco os 2 milhões de mortes civis no Iraque. Não existe isso de "Guerra Justa".
A história do imperialismo dos EUA deveria ser entendida. O Relatório 200 do Project of the New American Century (PNAC) intitulado "Rebuilding Americas' Defenses" apela à implementação de uma longa guerra, uma guerra de conquista. Um dos principais co mponentes desta agenda militar é: "Combater e vencer decisivamente em múltiplos teatros de guerra simultâneos".
A operação Líbia faz parte desse processo. É um outro teatro na lógica do Pentágono de "teatros de guerra simultâneos".
O documento PNAC reflecte fielmente a evolução da doutrina militar dos EUA desde 2001. Os planos dos EUA para se envolver simultaneamente em vários teatros de guerra em diferentes regiões do mundo.
Embora a protecção da América, nomeadamente a "Segurança Nacional" dos EUA, seja mantido como objectivo, o relatório do PNAC explica claramente porque estes teatros de guerra múltiplos são requeridos. A justificação humanitária não é mencionada.
Qual é o objectivo do roteiro militar da América?
A Líbia é alvejada porque é um dentre os vários países que permanecem fora da esfera de influência da América, por não se acomodar às exigências dos EUA. A Líbia é um país que foi seleccionado como parte de um "roteiro" militar que consiste de "múltiplos teatros de guerra simultâneos". Nas palavras do antigo comandante-chefe da NATO, general Wesley Clark:
"No Pentágono em Novembro de 2001, um dos oficiais superiores do staff teve tempo para uma conversa. Sim, ainda estamos a caminho de ir contra o Iraque, disse ele. Mas havia mais. Isso estava a ser discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países, começando com o Iraque e a seguir a Síria, Líbano, Líbia, Irão, Somália e Sudão... (Wesley Clark, Winning Modern Wars, p. 130).
09/Março/2011
Parte I: Insurreição e intervenção militar: Os EUA-NATO tentaram golpe de Estado na Líbia?
Parte III: "War is Good for Business": The Libya Insurrection has Triggered a Surge in Oil Prices. Speculators Applaud... (a publicar)
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23605
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
11/Mar/11
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