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segunda-feira, 21 de março de 2011

Resistir é preciso!

*Por Dr. Rui Nogueira em stand na Bienal do Rio de Janeiro

O autor participava de recente Bienal do livro em São Paulo, com estande nacionalista, presente a bandeira do Brasil e, embaixo, em letras bem visíveis, a frase: "Resistir é preciso."

Era um ponto animado, com muitos jovens circulando e alguns, ao observarem o destaque para o nosso verde e amarelo, perguntaram: "Quero estudar o Brasil. O que devo ler?"

Lembrei-me de Nelson Werneck Sodré, com seu livro O que se deve ler para conhecer o Brasil. Passei os olhos pelo ambiente da Bienal e pude constatar, em meio aos milhares de títulos expostos em gigantescas instalações de grandes editoras, algumas controladas por grupos estrangeiros, ser muito pobre a oferta de títulos voltados para a cultura e o interesse nacional.

Em dado instante, observei um senhor de meia-idade, parado em frente, perscrutando cada detalhe do local. Após alguns minutos aproximou-se e disse:

— Tomara que vocês consigam!

— Por que diz isto? — perguntei.

— Porque eu não sou brasileiro, apenas moro e trabalho aqui, e na minha terra não conseguimos resistir. Lá, fizeram tudo o que está acontecendo aqui, inclusive com o apagão. Quando abrimos os olhos, não tínhamos mais nada, tudo estava nas mãos de empresas estrangeiras. As transnacionais engoliram tudo.

Apresentou-se como indonésio e, depois, encontrei informações de que aquele país foi usado como balão de ensaio para implantar a globalização.

Aquele homem abriu minhas preocupações.

O apagão foi visível e até divulgado, mas a ocupação, o domínio das nossas empresas é disfarçado. As leis, criadas por pessoas que se venderam para o capital financeiro, permitem que uma empresa seja considerada brasileira apenas pelo fato de possuir um escritório no nosso país. Várias continuam com o mesmo nome, mas dominadas pelos interesses estrangeiros e até fazem propaganda enganosa de serem brasileiras apesar de inteiramente controladas pelo exterior.

Precisaria de muito espaço para enumerar e denunciar a ocupação silenciosa de boa parte dos setores econômicos brasileiros.

Tudo para eles

Tudo que se move e se transforma é energia.

O nosso sistema de produção de energia elétrica é o mais barato do mundo, utilizando hidroelétricas em todo território nacional, interligadas por redes de transmissão e planejadas para continuar funcionando mesmo com 5 anos sem chuvas. Bloqueando investimentos nas estatais, proibindo financiamentos do BNDES e segurando aumento de tarifas em época de inflação, além de aproveitar a formidável saúde econômica das estatais de energia para obter financiamentos externos usados para os pagamentos de juros da dívida, sem nenhuma aplicação no setor, o sistema foi fragilizado e permitiu, com a assessoria de consultoria estrangeira (inglesa), a privatização do sistema.

Ressalta a dominação estrangeira. As empresas elétricas distribuidoras estatais foram privatizadas a preços irrisórios. Alguns exemplos: Gerasul, oriunda da Eletrosul — federal —, comprada pela Tractebel, ramo de energia da empresa do cartel das águas Suez. Tietê, oriunda da Cesp — estadual de São Paulo — para a AES. Coelce — estadual do Ceará —, através de vendas intermediárias, hoje na mão da Ampla, com sede na Espanha, mas controlada por grandes grupos financeiros, inclusive o Banco Mundial.

O trabalho de 50 anos do povo brasileiro, a partir da campanha do "Petróleo é nosso", com a Petrobrás mantendo o país abastecido e desenvolvendo tecnologia pioneira de pesquisa em grandes profundidades, está passando para as mãos do cartel internacional do petróleo (só 32% das ações estão na mão do governo). A Petrobrás descobre bacias de petróleo e o investimento e trabalho dos brasileiros é transferido para estrangeiros terem lucros abusivos em absurdos leilões da ANP em que ela própria, às vezes, é excluída.

Resistir é preciso!

A Vale do Rio Doce, maior empresa de mineração estatal, desenvolvida com muito trabalho e sacrifício dos brasileiros, é transferida por valores insignificantes numa privatização muito questionada inclusive juridicamente. Agora tenta mudar de nome, passando a se chamar apenas Vale, querendo dar a impressão de que é uma empresa brasileira. Estão engolindo tudo. Qual o motivo de mudar a denominação? Fugir da crescente pressão pela reestatização?

O nosso sistema de comunicações é objeto de sucessivas negociações envolvendo muito dinheiro, concentrando em mãos estranhas todo o sistema. Não precisa ser nenhum estudioso para constatar a absurda exploração de que somos vítimas. Tarifas enormes e serviços virtuais precários. Temos que "gemer" para pagar as contas que sustentam acionistas distantes. Qual a vantagem?

Comprem óleo de soja sem ser da Bunge ou da Cargyll, estrangeiras. É difícil. Mesmo as embalagens que estão com rótulos de grande supermercado são produzidos pelas duas empresas. Com a palavra, o CADE.

Até clube de futebol tem sido ocupado por transnacionais. Alguns andaram levando um castigo e foram rebaixados! Seria, no dizer popular, "um castigo de Deus"?

A seleção brasileira de futebol está dominada por uma grande transnacional (Nike), explorando a nossa paixão pelo futebol.

Todas essas empresas não querem o nosso bem, querem os nossos bens.



Rui Nogueira é Médico Escritor pesquisador

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